terça-feira, 8 de setembro de 2015

TEMPO DE MUDANÇA: O patamar do Leão do Parque

Nesse momento delicado de troca na direção, a RDI Interior Mais Forte volta trazendo à tona a real situação do Leão do Parque, presenteando o torcedor rubro-verde com a verdade na íntegra.

Aldo Dapuzzo lotado no último jogo do São Paulo no Gauchão 2015.

Os dois últimos anos do Sport Club São Paulo foram de campanhas precárias no Campeonato Estadual da primeira divisão. Desde o acesso, em 2013, a palavra rebaixamento faz parte do cotidiano do torcedor rubro-verde, assombrando o Aldo Dapuzzo como nunca em seu glorioso passado. Nesse ano a situação piorou. Alguns jogadores que retornaram da temporada anterior declararam terem sido iludidos com uma proposta de melhor estrutura, sendo completamente ao contrário e refletindo no desempenho dentro de campo. Focando em 2015, vamos aos fatos:

O começo de tudo

A então atual gestão do São Paulo se instalou na Linha do Parque em 21 de Novembro de 2013, quando tomou posse o ex-presidente Domingos Escovar. A situação era nada menos que catastrófica, falimentar: oficiais de justiça penhorando as rendas; verba anual da FGF totalmente comprometida; dívidas das gestão anterior (que teve suas contas rejeitadas até o então momento); Clube sem contabilidade; contratos com concessionária por muitos anos; e, inclusive, a possibilidade de leilão do estádio Aldo Dapuzzo que se encontrava com o alvará vencido. Dentre tantos fatos, o Rubro-Verde se manteve na elite do Futebol Gaúcho, trocando de treinador há três rodadas do fim e vencendo a equipe principal do Grêmio dentro de casa.

Apesar das dificuldades, jogadores mantiveram a união.
No segundo semestre de 2014, o Leão disputou uma competição de menor expressão e teve como melhor resultado a revelação do jogador Dudu Mandai. A partir deste ponto, o caos interno refletiu completamente no gramado do Aldo Dapuzzo. Uma grande demora na composição do plantel para a disputa do Gauchão 2015 resultou em uma péssima campanha, escapando do rebaixamento na última rodada, dependendo de resultados paralelos e sem uma vitória em casa, sequer. Por trás do que se via em campo, havia uma única certeza: muita coisa, estava errada no interior do Sampa. Em entrevista à Interior Mais Forte, os atletas Balduíno, Teko e o goleiro Vilar foram coerentes nas críticas à presidência que havia prometido uma melhor estrutura, quando na verdade foi o contrário. Mesmo assim, os jogadores ainda ressaltaram as possibilidades do clube em buscar objetivos além da luta contra o rebaixamento, a partir de um planejamento concreto.

A atual situação

Após a renúncia do ex-presidente Domingos Escovar, quem teve a coragem de assumir o clube foi o então vice-presidente social, Vítor Magalhães. Com 30 anos de idade e um vasto conhecimento em administração e marketing, o agora presidente do Leão formou um grupo de trabalho que busca levantar a situação do São Paulo, sem o objetivo de concorrer à próxima eleição – que normalmente deverá ocorrer entre os meses de outubro e novembro. Vítor atendeu à Interior Mais Forte e nos deu uma entrevista completa, tocando nos principais pontos da gestão do clube.

Uma das maiores virtudes do novo presidente é a sinceridade. Coerente, Vítor diz que é preciso “tocar na ferida, reconhecendo erros do passado sem passá-los adiante”. Além da transparência nas palavras, o mesmo demonstra amor ao clube e continua: “Precisamos pensar no próprio clube para que os próximos presidentes encontrem algo diferente do que os anteriores se depararam”. Como o futuro se faz hoje, o presidente finaliza este ponto com sanidade: “Sabemos que o Leão é grande candidato ao rebaixamento em 2016. Por isso, é preciso pôr os pés no chão e sonhar alto, sim, mas sem fugir da realidade. Impossível é montar um planejamento com base em ilusão. O material de trabalho são fatos e dados”.

A transição

Vítor Magalhães (à direita) e seu grupo de trabalho.
Foto: (Divulgação/Jornal Agora)
A partir da realidade do clube, o olhar é para frente. As dificuldades são diversas, mas que devem ser enfrentadas sem medo, se depender do pensamento da atual gestão. Por mais que nada além da realidade seja usado como projeção, novos ares precisam ser explorados e é nisso que aposta o novo presidente: “Hoje o São Paulo carece de diversos pontos importantes para a estruturação de um grande clube, tal como a falta de um departamento de marketing. O atual pensamento é somente em captação financeira, esquecendo a mercantilização da marca”. O Leão do Parque já apostou em um setor exclusivo de propaganda, em 2014, mas na época a diretoria concluiu que não havia condições de manter o projeto. “É preciso mudar a realidade do São Paulo em relação ao marketing. Quebrar a cultura desse paradigma que as pessoas têm de vincular o marketing à captação financeira”. Inteligente, Vítor ainda cita um ícone do marketing como fonte de um princípio fundamental: “Como dizia Phillip Kotler, devemos estabelecer os 4 ‘p’ do marketing: produto, praça, preço e promoção”. E finaliza: “É preciso que eles trabalhem juntos, se tratando do marketing como um todo”.

Daqui pra frente

Por mais que as ideias sejam do presente, a palavra final é toda do próximo presidente. Dentro desse contexto, as ideias são apresentadas apenas como potência, se aproximando do ato, ao máximo, por negociações em andamento. Três grandes empresas de marketing já foram contatadas pela diretoria do São Paulo, tendo uma delas como a mais avançada: “Estabelecemos três pilares fundamentais: o primeiro é restaurar a imagem do S.C. São Paulo (hoje o Leão tem a imagem de mal pagador, não possui credibilidade, as pessoas não confiam no clube ao ponto de não liberarem patrocínio pela falta de transparência. A clareza não pode ser momentânea, é um trabalho contínuo de médio a longo prazo); o segundo é a comercialização da publicidade para a captação financeira, sem ceder exclusividade, abrindo portas para tratar com diversas agencias devido a situação financeira delicada; e o terceiro foi a iniciativa de um programa sócio torcedor que já foi enviada ao conselho deliberativo, aprovada internamente e só aguarda a aprovação do próximo presidente, fazendo uma alusão a outros grandes clubes e, preferencialmente, sendo lançada após a estruturação do departamento de marketing, impulsionando a propaganda do projeto”.

Focando no torcedor, o ‘terceiro pilar’ foi explicado pelo presidente: “Seu grande objetivo é uma mensalidade mais barata, mantendo o torcedor não só fiel, mas leal ao ano inteiro, criando uma cultura nova de vendas de lote de ingresso nos jogos do São Paulo – por exemplo, o sócio paga uma mensalidade mais baixa, mas paga a metade do ingresso nos jogos, tendo o direito de compra preferencial no 1º lote, liberando para o público em geral a partir do segundo”. Além disso, cerca de 30 convênios estão para ser firmados com estabelecimentos comerciais de Rio Grande e Pelotas que o sócio torcedor poderá usufruir, aproximando o mesmo do clube. Fora isso, um portal de transparência e um novo site do clube com mais funcionalidades está sendo planejado. Tudo depende da aprovação do novo presidente.


Torcedor Rubro-Verde apoiou o clube em todos os momentos.

Recado ao torcedor

A Interior Mais Forte não esquece de você, torcedor! Nas entrevistas gravadas com os jogadores citados no primeiro item, ao término do Gauchão 2015, foi reservado um tempo exclusivo para que os mesmos pudessem falar com o adepto apaixonado do Leão do Parque. Alguns meses depois, trazemos à tona a situação dramática do clube, mas não esquecemos aqueles que representaram as cores do clube dentro do campo. Aqui eles têm voz.

Volante Balduíno: – Graças a Deus deu tudo certo no final. No início, as coisas por aqui foram muito difíceis, mas a gente pôde superar a dificuldade e demos a volta por cima, alegrando o torcedor com a permanência na primeira divisão. Temos que agradecer a todos pelo empenho e dedicação, a diretoria, o presidente que nos deu aquilo que tinha condições e só tenho a agradecer a Deus por mais um ano que pude jogar no São Paulo. Por mais que sempre devemos pensar num objetivo maior – a classificação – dessa vez não foi possível, mas pelo menos conseguimos deixar o time onde pegamos. Até me colocaram um apelido de Baldumito e fico muito feliz por esse reconhecimento. Joguei 14 das 15 partidas, só fiquei fora de uma – por suspensão – e o torcedor sempre me abraçou. Só devo agradecer por terem me apoiado em mais essa guerra.

Zagueiro Teko:O balanço no geral foi positivo, pois conseguimos deixar o clube na primeira divisão. Espero que agora a diretoria se reúna e não cometa os mesmos erros desse ano. Claro que deixamos a desejar em algumas partidas, principalmente dentro de casa, mas acho que merecíamos uma sorte melhor por termos feito bons jogos. Aconteceu dessa forma, mas nunca nos abalamos. Foi um grupo de guerreiros do qual tenho orgulho de ter feito parte. Agradeço à família São Paulo, me sinto aliviado e muito agradecido à torcida que desde o início esteve do meu lado, assim como da equipe toda. Foi um campeonato difícil, de muita luta, mas em nenhum momento eles deixaram de nos apoiar. Então fiquei muito feliz. Espero voltar num futuro próximo. Já passei por equipes melhores e digo que o São Paulo tem muito a melhorar, embora seja difícil fazer futebol sem dinheiro. Aqui tem as dificuldades como em qualquer clube do interior e isso gera muitos obstáculos. Então sou muito grato e estarei sempre na torcida por esse clube. – aqui foi perguntado sobre os últimos jogos, após sair machucado no jogo contra o Caxias – No final foi na superação, levei uma pancada no joelho no jogo contra o Caxias, mas não foi nada grave, embora tenha inchado. O ano foi todo de superação, esse era o nosso lema no vestiário. Não quis dar uma de herói, nunca tive essa pretensão, mas creio que o São Paulo merecia esse sacrifício de mim.

Goleiro Vilar: – Só tenho a agradecer ao torcedor que me incentivou e em nenhum momento abandonou o clube, aparecendo em todos os jogos. Deixo aqui meu muito obrigado e a satisfação de ter cumprido o dever de manter o São Paulo na primeira divisão. Creio que com um projeto melhor estruturado, as coisas vão melhorar para o ano que vem. Agradeço também a Deus pela oportunidade, pelo Clube ter aberto as portas pra mim que joguei pela primeira vez o Campeonato Gaúcho e creio respondi bem, mantendo uma regularidade durante a competição. Deixo aqui meu muito obrigado ao torcedor e a cidade que me acolheu da melhor forma. Fico na torcida para que as coisas melhorem para o ano que vem!


Você acompanha a entrevista com Vítor Magalhães, na íntegra, no programa Show de Bola (99,5 FM) com Linno Vianna e Victor Vieira. É domingo, às 14hrs.

A RDI Interior Mais Forte agradece o apoio do colega Fabrício Marques (Rio Grande Esporte Mais) pelo empréstimo do equipamento para gravação das entrevistas com os jogadores, assim como a atenciosidade dos jogadores Balduíno, Teko e Vilar, e do presidente do Sport Club São Paulo, Vítor Magalhães!

Lucas dos Santos Martins
Graduando em Jornalismo
Universidade Federal de Pelotas

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