segunda-feira, 14 de setembro de 2015

1º Fórum Gaúcho de Futebol: Resumo #1

Autoridades abriram o evento. (Foto: Lucas Martins)

Com a participação de aproximadamente 30 profissionais do esporte, nos dois dias de evento, o 1º Fórum Gaúcho de Futebol foi um sucesso. Organizado pela empresa MC Esportes, teve em seu primeiro dia apenas um debate, contabilizando 6 mesas-redondas no domingo e fechando com 7 apresentações. Como não poderia ser diferente, a Interior Mais Forte cobriu o evento em sua íntegra e traz pra você, em primeira mão, todos os detalhes de cada discussão envolvendo os temas impostos pela organização. A ordem as matérias será a seguinte:

  • Segunda-Feira (hoje,): Apresentação, Gestão de Projetos e Categorias de Base;
  • Terça-Feira: Direito Esportivo e entrevista exclusiva com a Drª. Marijú Maciel;
  • Quarta-Feira: Plano de Carreira, Multidisciplinaridade e Marketing de Comunicação;
  • Quinta-Feira: Futebol na Escola e entrevista exclusiva com o Professor Paulo Capela; e
  • Sexta-Feira: Balanço final com os organizadores.
Anunciada a programação da semana envolvendo o 1º Fórum Gaúcho de futebol, vamos direto ao ponto e trazemos pra você o material em si!

Apresentação:

Compunham a mesa as autoridades Petter Botelho (secretário de turismo, esportes e lazer de Rio Grande), Airton Viñas (presidente do S.C. Rio Grande), Domingos Escovar (ex-presidente do S.C. São Paulo) e Alexandre Lindenmeyer (prefeito da Cidade). No púlpito, a psicóloga Marcia Conceição dava início a solenidade. Em seus discursos, os convidados fizeram questão de enaltecer a importância do 1º Fórum Gaúcho de Futebol para a comunidade em geral, mas principalmente pro bem do nosso esporte.

Psicóloga Marcia Conceição profere o discurso de abertura do evento. (Foto: Lucas Martins)

Gestão de Projetos
O único debate do primeiro dia de evento foi com o tema “Gestão de Projetos – A força da convicção na busca pela vitória”. Nomes fortes, os componentes da mesa, mediados por Farnei Coelho (sócio proprietário da MC Esportes), foram Atílio Zugno (membro das categorias de base do Juventude), Aloísio Pires (ex-jogador de futebol) e Renan Mobarack (ex-diretor de futebol do S.C. São Paulo). Já em sua apresentação, Renan declarou que o momento é de incerteza geral dentro do futebol e que o Interior não pode perder sua identidade.
Na primeira pergunta, o tema abordado foi a função do gestor, o diretor de futebol, na equipe. O primeiro a responder foi Atílio Zugno, que citou a logística diária dentro do clube: “Existem três nichos principais: os atletas, as comissões técnicas – conciliação da ideologia de trabalho – e a equipe de apoio”. A seguir, o dono da palavra foi Renan Mobarack. Complementando o pensamento do participante anterior, Renan complementa com o estudo e a especialização como pontos essenciais no currículo desse profissional. A seguir, a bola foi passada para Aloísio Pires. Com experiência em clubes da Europa, Aloísio nota uma grande diferença na valorização do funcionário e fecha o primeiro item defendendo qualidade na remuneração do diretor de futebol.


Nomes fortes para o tema "Gestão de Projetos". (Foto: Lucas Martins)

Dando sequência no protocolo, a segunda pergunta colocou em pauta os pontos fortes do gestor. Tomando a frente, Aloísio foi simples e direto: “Acredito na proximidade desde o treinador, até o presidente, tendo acesso a todos os setores do clube”. Renan tocou novamente nos objetivos reais para fazer o planejamento e alcançar o sucesso: “Independentemente do presidente, o clube precisa de um projeto à longo prazo”. Já Atílio levou para outra esfera e disse acreditar no auxílio ao diretor de futebol, evitando a sobrecarga do mesmo: “O gestor deve escolher com precisão aqueles que vão lhe ajudar no processo em um todo”.
Fechando as perguntas padrões, o assunto foi delicado: a terceirização da categoria de base. Mais uma vez, a primeira palavra foi de Aloísio. Ele crê que a falta de estrutura é o fator principal para que os garotos fiquem nas mãos de terceiros. Opinando, aposta que é uma grande falha, pois a base é uma grande fonte de recursos humanos e monetários para o clube. Por sua vez, Mobarack frisa a filosofia de trabalho dentro das diversas esferas da equipe. Além disso, fala que os contratos e o mau acompanhamento dos atletas dificulta a manutenção.
Por último, quem expôs sua opinião foi Atílio, defendendo a posição de uma referência das categorias de base no Estado e País. Primeiramente, ele aponta o alto valor monetário que custa uma categoria de base, nos dias de hoje. Porém, ele aponta: “O erro se encontra no momento em que os dirigentes veem os jovens como um gasto, e não um investimento”. Concordando com os outros participantes da mesa, crê que a base é um ótimo meio de elevar o patamar dos clubes e termina com um dado importante: na atual gestão, o Juventude está próximo de  atletas negociados com grandes clubes, resultado do mantimento da base mesmo em meio a crises financeiras.

Componentes da mesa recebem o certificado do evento. (Foto: Lucas Martins)

Partindo para as perguntas da plateia, a primeira traz o foco para o Gauchão. Como não poderia ser diferente, Renan Mobarack é o primeiro a falar e foca num problema crônico: o excesso de divisões no Campeonato Gaúcho. Aliado a isso, os problemas no calendário também depreciam a qualidade da disputa. Entretanto, defende os torneios do segundo semestre: “É um ótimo atalho para as divisões nacionais”. Finalizando, crê que uma associação de clubes facilitaria as negociações com a Federação, citando o exemplo da Catarinense. Por sua vez, Atílio afirma que a TV comanda o espetáculo por bancar os clubes. Diz que “focar na organização individual de cada time é melhor do que encontrar desculpas para encobrir falhas nesse ponto”. Assim, as verbas de televisão seriam mantidas durante toda a temporada. Por fim, Aloísio reitera a reunião de clubes, mas adiciona a ideia de uma proposta de mudança formada por esse grupo: “Os baixos orçamentos dificultam, mas nada que a união não resolva, valorizando as equipes como um todo”. Completando-o, Renan volta a falar e faz um adendo sobre a nova sede da FGF, que custou em torno de 12 milhões de reais: “Ela não representa o nosso Interior”.
A segunda pergunta da plateia, e última discussão da noite, foi sobre a gestão dos clubes como uma empresa. Aloísio disse que “o comando deve ser profissional e seguir bons exemplos, garantindo retorno funcional e financeiro”. Como sugerido, cita o Barcelona – clube pelo qual jogou no passado – e diz que no Brasil há dirigentes com pensamentos errados sobre como fazer um clube. Renan foi simples e direto, englobando sociedade, política e legislação: “O problema é cultural”. Ainda sim, trouxe à tona a atitude do Bahia de remunerar seu presidente, profissionalizando seu trabalho e evitando desvios. Atílio finalizou a primeira noite do evento dizendo que “os setores devem ser profissionalizados para que os clubes não sejam onerados somente por amor”.
Categorias de Base
Mantendo a característica do evento, a mesa que tratou de “Futebol e Categorias de Base – Formando para vencer” contou com nomes de clubes renomados no quesito: Carlos Leiria (técnico dos juniores do S.C. Internacional), Wagner Gonçalves (projeto LAPIDAR – Grêmio FBPA), Atílio Zugno (coordenador das categorias de base do Juventude) e Luís Esteves (coordenador técnico das categorias de base do Fragata/Pel). Na mediação, o sócio proprietário da MC Esportes, Bruno Moreira.
A primeira pergunta foi sobre o planejamento das categorias de base. O primeiro a falar foi Wagner Gonçalves, do Grêmio. Ele começa citando sua inspiração, como uma apresentação: “Meu pai jogou no SC Rio Grande, quando eu era mais jovem. Eu via os jogadores e reconhecia o significado da qualidade”. Por fim, deixou clara a satisfação de voltar à Rio Grande. Após, Wagner diz que o diagnóstico é o primeiro passo, entendendo o contexto: “O que se tem; o que se quer; e como será feito”. Atílio diz que o assunto é amplo, pois a filosofia de um clube é diferente da mesma em outro time. Assim, “toda uma análise de cenário é necessária para que a real situação seja definida”. Em sua vez, Luís diz que o pilar principal é a avaliação do modelo de jogo, definindo um plano geral para o tipo escolhido. Ele também coloca que “o planejamento metodológico de uma equipe é fundamental, mas ainda não está no devido patamar”. Também usa o termo “formar para o mercado”, em que entra o valor da potencialidade individual; e “formar para a equipe”, caindo na dúvida pertinente do futebol brasileiro de “como joga determinada equipe?”. Carlos Leiria mantém a precisão da mesa. Ele fala que “planejar a base é um trabalho complicado, pois nosso futebol está carente do “saber o que fazer””. Defendendo sua agremiação, afirma que o “Inter forma para o Inter”. Continua, dizendo que as categorias de base dependem de profissionais qualificados para trabalhar com comprometimento. Outro ponto focado por ele foi o respeito à faixa etária do atleta em formação e volta a falar do Internacional, qualificando-o positivamente por possuir uma categoria sub-23 e também por estudar um perfil de funções para cada jogador. Finalizando, cita outro exemplo: o Benfica, de Portugal. O clube luso foi convicto na formação de atletas de base.

Debate foi longo no tema "Categorias de Base". (Foto: Lucas Martins)

Finalmente passando adiante, a segunda pergunta foi sobre manter uma mesma metodologia entre as diversas categorias da base do clube. Atílio começa falando da prioridade do clube, dependendo da quantidade de divisões por idade. Também entra no modelo de jogo, diminuindo erros, mas não sendo o único fator positivo: a facilitação da adaptação. Finaliza afirmando que “tudo é ligado ao perfil de atletas no mercado”. Luís, por sua vez, ache fundamental a sincronia entre as equipes. Continua com a ideia de que o jogador chega a um nível muito alto através da prática e termina falando sobre seu clube, o Fragata: “Lá existem características voltadas à tomada de decisão, para que haja uma quebra de formação”. Wagner diz que “o Grêmio encara com preocupação o que o garoto espera para si”. Segundo ele, o processo de coordenação técnica é complicado, pois varia muito quanto a receptividade do perfil de cada pessoa: “A questão humana e social é tratada com cuidado, pela individualidade”. Citando um fato no Tricolor, foca nos desafios que são impostos para preparar o garoto, visando as próximas etapas e contrariando a filosofia do Internacional, como explícito na primeira pergunta. Sobre esquema tático, finaliza a pergunta explicando que a diretoria respeita as características de cada plantel, dando liberdade para a comissão técnica adaptar o esquema tático: “São três pontos principais: a tática individual; o conceito de jogo; e o modelo de jogo”.
A terceira pergunta é sobre os resultados na categoria de base, começando com a resposta de Carlos Leiria: “O Inter tem o departamento de metodologia, desde 2014. Assim, planos de treino em diversos componentes são distribuídos pela semana”. – Nesse momento, cita o fato da Morada dos Quero-Queros (CT da base Colorada) ser alugada, possuindo cinco campos. – Um problema relatado por Carlos foi os jogos no meio da semana, que acabam prejudicando os treinos completos, refletindo na evolução da categoria e evolução individual de cada jogador. Por fim, deixa uma pergunta: “Formar para ganhar, ou ganhar para formar?”; ele mesmo responde: “O ganhar será uma consequência. Na base, ele significa pôr um garoto no profissional”. Wagner traz a realidade do Grêmio e justifica a promoção de atletas para categorias superiores com o argumento de ser um desafio. Recentemente, o Grêmio jogou um torneio sub-20 com uma equipe de garotos nascidos em 1997. Isso explica o grupo de transição que existe no clube tricolor: “O jogador treina no campo ao lado do profissional, sendo facilmente identificado pela comissão do mesmo”. Por fim, relata que o suporte da coordenação é fundamental para dar atenção a todos: “Individualidade é diferente de individualismo”. Em seu momento, Luis argumenta com “inversão de causa e efeito, pois nem sempre o resultado é reflexo do trabalho. O jogador deve fazer o melhor que pode”. Ele ainda acredita o jogador precisa ser ensinado a escolher. Se nesse período, a carga é recebida pelo atleta, se obtém êxito: “Talvez, hoje, o mais importante não chegue ao treinador”. Finalizando, diz que “na maioria das vezes o torcedor não entende o processo de formação” e completa, precisamente, dizendo que “por vezes, os objetivos corrompem os princípios”. Atílio encerra o assunto falando no histórico de anos atrás, quando a formação estava à frente de ganhar, mas hoje vê como um processo mútuo: “Não se mede a realidade do atleta só vendo se ele ganha ou não, mas a credibilidade do trabalho é perdida com a falta de bons resultados”.
Membros da mesa recebendo o certificado do evento. (Foto: Lucas Martins)

Como o assunto foi debatido à fundo (evidenciado no tamanho do texto e no cansaço do leitor em ler tudo isso), apenas uma pergunta da plateia foi passada aos integrantes da mesa. Inteligente, o indivíduo perguntou se as diferentes vivências com variados estilos de jogo, não poderiam somar ao atleta, em vez de prejudica-lo. Luís tomou a frente e disse que sistema é diferente de método: “Duas equipes podem trabalhar de maneira igual durante a semana, mas jogar completamente diferente”. Por hora, é bom que o atleta tenha um currículo completo: “É como se o jogador falasse diversos idiomas”. Atílio brevemente relata que por mais que o clube tenha um método semelhante entre as categorias, “o jogador que começa no sub-8, vai chegar ao sub-20 com experiências diferentes”. Wagner começa citando o exemplo de Luan, do Grêmio, quando subiu da base para a equipe titular do profissional em 7 meses: “as vezes o excesso de informação pode tirar a autonomia do jogador”. Sendo assim, aconselha o que é passado ao atleta, para que não seja criada uma marionete, e não um atleta: “Atualmente, há um jogo muito simples que tornou o diferente em surpresa”. E finaliza: “O Brasil tem ludibridade, não pode mudar”. Último a falar, Carlos Leiria complementa a relação de método, mas trata a tática como o essencial: “Goleiros tem menos tomada de decisão que os meias – esses que possuem a melhor nota). Continua falando da importância da ideia de exercícios (conceitos) para que o jogador não sinta-se tanto a passagem de categoria. E fecha o debate com um golaço: “Mais educadores, menos treinadores”.

É a Interior Mais Forte resumindo pra você tudo que aconteceu no 1º Fórum Gaúcho de Futebol.

Lucas dos Santos Martins
Graduando em Jornalismo
Universidade Federal de Pelotas

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