Abrindo o segundo dia do 1º Fórum Gaúcho de Futebol, o
debate sobre Direito Esportivo contou com três renomados advogados para a
discussão dos pontos propostos pela organização. São eles: Mariju Maciel,
Ricardo Pizarro e Rafael Farias. No intermédio, Guilherme Rajão cumpriu seu
papel com grande qualidade.
A primeira pergunta tratou da sincronia das categorias de
base com o profissional, em relação aos contratos de trabalho. Mariju tomou a
frente e começou uma aula de direito esportivo. Primeiramente, ela diz que os
clubes usam da paixão pelo esporte e da busca do objetivo para realizar
contratos absurdos com os jovens, além dos mesmos serem curtos nos clubes de
menor porte. Também fala que “a ideia da cláusula de rescisão é feita pelas exceções”
e complementa tocando no ponto das multas rescisórias astronômicas –
representando duas mil vezes o valor do salário (vide ‘Lei Pelé’) – que prendem
os garotos em clubes com pouca estrutura de formação. A doutora encerra sua
fala pedindo para olharmos o jogador de futebol também como um ser humano. O
próximo membro da mesa a opinar foi Ricardo Pizarro, que aposta nos
investidores como inimigos do futebol em si: “A lei já declara a irregularidade
desses empresários, mas o futebol atual fica inviável sem eles”. Completando,
diz que deve demorar, mas a CBF deixará público os números dessas negociações.
Fechando a primeira resposta, Rafael fala da TMF, a “ferramenta da
transferências”: “37% dos jogadores sul-americanos são de investidores”. Também
aponta uma infração grave na lei que determina o valor de 3% em comissão para o
empresário, mas que os mesmos aumentam o número e resultam em 10%: “Ligados à
CBF, esses profissionais não podem ser parentes de até 2º grau do atleta, nem
ser filiado à clubes”. Nesse momento, Mariju adiciona o argumento de que a lei proíbe
a venda do direito econômico, mas que não é cumprida como deveria. Assim,
Ricardo completa dizendo que “falta profissionalismo para o comércio na base”.
Passando adiante, a segunda pergunta toca num assunto
popular nos dias de hoje: a justiça comum no direito esportivo. Começando as
respostas, Rafael esclarece que “a lei federal permite, mas apenas após o
processo ter passado por todas as instâncias do Tribunal Desportivo”. Porém,
ele fala que o artigo 66 doestatuto da FIFA proíbe tal recurso. Já o artigo 68
determina que o mesmo seja adotado pelas federações em seus respectivos países.
Ricardo foi o segundo a opinar e disse que “o certo seria recorrer
primeiramente à FIFA, na Suíça, e só depois na justiça comum”. Marijú é breve e
completa as respostas revelando que todos os clubes que decidiram retirar os
processos na justiça comum, foram ameaçados para chegar a tal conclusão. E
completa: “Há conflitos entre as justiças comum e desportiva”.
A terceira pergunta se refere a efetividade das punições aos
clubes pelos atos da torcida. Rafael inicia expondo o artigo 213 do CBJD.
Ricardo usa os números para explicar a situação atual: “Dos últimos 10
julgamentos do TJD, aqui no RS, apenas três acarretaram na perda do mando de
campo”. Abrindo o leque, continua: “Já no STJD, foram 4 perdas de mando +
multa, 3 multas, apenas, e 3 absolvições”. A seguir, explica que todas as
perdas de mando incluem multa, mas que o valor desta varia: menor, se
acompanhado da perda de mando; e maior, se sozinha. Assim, a terceira pergunta
foi debatida pelos integrantes da mesa.
Enfim na última pergunta padrão, o tema abordado foi a
rescisão de contratos por atraso nos pagamentos de direito de imagem e salário.
A primeira a se manifestar foi a Doutora Mariju, explicando a teoria: “O
jogador pode sair sem multa, no caso de o clube não cumprir com suas obrigações
– vide artigo 33 da Lei Pelé”. No caso, são exemplos desses compromissos: não
recolhimento do FGTS e não pagamento de salário por 3 meses ou mais. A lei do
ProFut coloca o contrato de imagem nas mesmas condições. Inserido no contexto,
os treinos em separado servem para que o jogador canse da rotina monótona e
aceite apenas o pagamento dos dias trabalhados. Tudo isso está englobado pela
CLT.
Partindo para as pergunta da plateia, o assunto imposto e
debatido na primeira delas foi o direito de imagem como pessoa jurídica. A
doutora Mariju se antecipou mais uma vez e deu início a resposta, sempre com
clareza e veracidade: “Os contratos podem ser feitos com pessoas físicas, mas
os clubes pedem para o jogador passar à uma empresa para diminuição de impostos”.
Segundo ela, a imagem é da pessoa
física, do ser humano, a não ser que seja cedida a empresa (temporariamente). E
finaliza: “O contrato de imagem não pode ser maior que 40% do salário”.
A segunda e última pergunta do debate foi sobre a prevenção
legislativa para atos ilícitos de dirigentes. Delicado, o assunto foi tratado
inicialmente por Ricardo Pizarro: “Trata-se de gestão temerária”. Marijú
completa transparentemente: “É muito difícil que um dirigente seja condenado”.
E continua: “O motivo? Força política”.
Domingos Escovar foi a grande surpresa do debate. (Foto: Lucas Martins) |
Nesse momento, Domingos Escovar – que acompanhava o debate da plateia – foi
chamado ao palco para falar sobre a gestão de um clube. A seguir, a fala
completa do ex-presidente do S.C. São Paulo: “Em primeiro lugar, é uma surpresa
para mim, mas uma oportunidade de falar sobre um assunto. Sinto-me muito
decepcionado com as fraudes do Direito no Brasil. Infelizmente, atualmente a
Lei existe para ser fraudada. Chegamos ao ponto de pessoas não-adeptas fazerem
o mal para os clubes pagarem o preço. Mudando o foco, eu defendo o apoio que a
FGF dá para os clubes gaúchos, comparada a outras federações. Sou admirador da
mesma, a qual se preocupa de verdade com as equipes locais. Queria aproveitar o
espaço e elogiar, também, Renan Mobarack, Farnei Coelho e Guilherme Rajão pelo
apoio que deram ao Leão, e parabenizar a MC Esportes pela organização desse
evento. Obrigado!”
A seguir, Domingos foi ovacionado pelo público e recebeu
vastos elogios da Doutora Mariju, a qual frisou que o Rubro-Verde não possui
mais contas com a Justiça após a gestão de Escovar, que completou afirmando que
as antigas pendências vinham de outros comandos.
Ao término do debate, a Doutora Mariju Maciel concedeu uma
entrevista exclusiva à Interior Mais Forte. Você acompanha-a, na íntegra,
clicando no vídeo abaixo:
Amanhã, quarta-feira, você acompanha o Resumo #2 do 1º Fórum Gaúcho de Futebol: Plano de Carreira, Multidisciplinaridade e Marketing de Comunicação.
Lucas dos Santos
Martins
Graduando em Jornalismo
Universidade Federal de Pelotas
Graduando em Jornalismo
Universidade Federal de Pelotas
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